literatura, cinema, política e futebol
Reflexões sobre literatura, lista de filmes à sua disposição para intercâmbio, abordagem sobre política e crônicas sobre futebol.
domingo, 6 de junho de 2010
DE 58 ATÉ HOJE, OS MELHORES JOGADORES DO BRASIL QUE VI JOGAR
GOLEIRO: GILMAR
LATERAL DIREITO: DJALMA SANTOS
ZAGUEIRO CENTRAL: MAURO
QUARTO ZAGUEIRO: ORLANDO
LATERAL ESQUERDO: NILTON SANTOS
VOLANTE: ZITO
MEIA DIREITA: DIDI
MEIA ESQUERDA: PELÉ
PONTA DIREITA: GARRINCHA
CENTRO AVANTE: VAVÁ
PONTA ESQUERDA: PEPE
Como só posso escalar onze jogadores entre os titulares, destaco também Carlos Alberto Torres, Beline, Coutinho, Gerson, Rivelino, Paulo César, Edu, Zico, Sócrates, Cafu, Ronaldo, Ronaldinho e Robinho.
sábado, 5 de junho de 2010
SÃO BERNARDO, UM EXERCÍCIO DE METALINGUAGEM
NA RUA DE SUCUPIRA

O engajamento do escritor ocorre quando ele vislumbra a necessidade de fazer continuar vivendo algo substancial, humano e socialmente autêntico. É o que faz Luciano Rocha, também “bicho da terra”, como sou, ao resgatar “estórias” e “histórias” de nossas redondezas, do mato e da periferia.
Seus contos-estórias, no sentido roseano, preenchem espaços vazios, neste início de século, na Literatura nordestina, quando traz ao conhecimento do leitor a magia, as superstições, o misticismo, o erotismo, enfim o “modus vivendi” de parte da população esquecida e marginalizada, mas que ressuscita em “casos e causos” , tão bem literariamente urdidos nesse livro.
O exercício de resgate desse “modus vivendi” tem como mola propulsora a memória que serve de alavanca para que o escritor filtre, entre as várias “estórias” contadas, os laços humanos, culturais e sociais subjacentes, principalmente, em regiões em que o progresso tecnológico ainda não teve tempo para inexoravelmente deixar suas marcas.
Numa linguagem leve e de acentuado humor, de fundo predominantemente oral, popular e regional, Luciano Rocha dá um testemunho de que é possível fazer boa literatura, sem uso excessivo de retórica e de artifícios lingüísticos, que servem, no mais das vezes, para torná-la ininteligível. Na Rua de Sucupira, o leitor se depara com um universo lingüístico familiar e acessível.
Ler e apresentar seus contos-estórias é fascinante para mim, visto que proporciona adentrar-me num universo humanamente autêntico, de laços sociais e culturais arraigados, não ao episódico mas à tradição cultural e social. Foi um exercício lúdico e de conhecimento mergulhar em vinte e cinco “estórias” urdidas nas argamassas das memórias.
Alexandre Santos
Professor de Literatura brasileira
A PROBLEMÁTICA DE A PROCURA DE JANE

Professora de filosofia, aposentada, Jane Brasil, cinqüenta anos, vendeu o apartamento, onde morava em Belo Horizonte, e um fusca velho, e com o dinheiro patrocinou mais uma vez uma viagem para o exterior, sendo que desta feita, para os Estados Unidos. Percebe-se que a intenção da protagonista nessas viagens é conhecer culturas diferentes e compará-las com o Brasil.
A narrativa dividida em três partes apresenta na primeira, denominada A Viagem, as peripécias de seu retorno ao Brasil e as conseqüências de ter ficado sem apartamento e com os salários reduzidos em função das despesas feitas e criadas. Nesta parte, a personagem procura a partir de lembranças provocadas pelos diversos acontecimentos ao seu redor refletir sobre sua origem, seu estado atual e principalmente sobre seus conflitos interiores. Na segunda parte, denominada A chegada, a personagem protagonista se depara com uma série de nuances, como, por exemplo, a ordem judicial para desocupar o apartamento e a solução encontrada que foi morar num abrigo. Na terceira, chamada de Busca, Jane Brasil empreende uma procura de sua origem familiar, tendo que se deslocar de Minas Gerais à Bahia, numa espécie de prestação de contas com o seu passado. Predominam nas três partes da narrativa uma espécie de busca obsessiva da personagem pelas suas origens sociais, familiares e culturais, responsáveis, em última instância, pelos seus conflitos interiores.
As origens familiares de Jane Brasil se resumem numa tentativa de reconstruir sua identidade a partir de sua família biológica e de sua família adotiva, com a qual ela conviveu grande parte de sua adolescência. Os aspectos sociais de sua existência giram em torno de sua formação profissional, visto que, no momento da narrativa, ela assume a postura de professora aposentada de filosofia, na plenitude de sua vida intelectual, mas situada numa condição de indigência pelas péssimas condições salariais e de moradia. As reflexões culturais giram em torno das análises que faz em torno da prática de ensino que norteou sua condição profissional de professora e de intelectual.
Ganha corpo na narrativa a procura obstinada que Jane faz em busca de uma chamada “prestação de contas” com uma psicóloga, que, segundo ela, apropriou-se de alguns de seus escritos e publicou em forma de livro autobiográfico com outro título. No desfecho, sabe-se que o encontro entre Jane Brasil e a psicóloga não passa de um truque narrativo, visto que a psicóloga não é nada mais, nada menos que a própria Gizelda, chamada de GM, portanto criadora da personagem-protagonista.
A personagem-protagonista reencontra, depois de muitos anos, sua mãe adotiva no estado da Bahia, onde morava com os filhos, e decide morar com Jane que, para sua surpresa, descobre que o rapaz, companheiro de viagem no retorno dos Estados Unidos, é seu sobrinho-neto. A busca de suas origens termina com esta reflexão: “De qualquer forma, a pessoa que se tornou a partir de seu nascimento, fruto de desejos carnais ou de anseios da mente, é temporária e impermanente, como todo mundo. Por isso ela resiste, vai continuar a sua vida e ninguém vai saber o seu final.”
sábado, 9 de janeiro de 2010
VESTIBULAR UFS: NOVAS OBRAS PARA A TERCEIRA SÉRIE
Você está prestes a enfrentar a mais um grande desafio em sua carreira de estudante: o vestibular SERIADO 2011 DA UFS e O VESTIBULAR DA UNIT, que exigem a leitura obrigatória de 16 obras importantes da Literatura brasileira. Este ano uma novidade: O NOVO ENEM. Apresento uma série de questões dentro do padrão ENEM, gabaritadas e interpretadas.
Na primeira série: A Hora da Luta, de Álvaro Cardoso Gomes; Assassinato na Floresta, de Paulo Rangel; Os Bruzundangas, de Lima Barreto.
Na segunda série, novas obras: Marília de Dirceu, de Tomaz Antônio Gonzaga; Cartas Chilenas, também, de Tomaz Antônio Gonzaga; Olhinhos de Gato, de Cecília Meireles e o livro de poemas Mensagem, do escritor português Fernando Pessoa.
Neste trabalho procurei também fornecer outras análises, constituindo-se uma novidade também para você. Como sabemos, o vestibular da UNIT é uma realidade e, por isso, estão neste volume abordagens dos cinco livros solicitados: Vidas Secas de Graciliano Ramos; Memorial de Aires de Machado de Assis; Os Desvalidos de Francisco Dantas; O Vampiro que descobriu o Brasil de Ivan Jaf e Cidadão de Papel de Gilberto Dimenstein.
A UFS costuma privilegiar 75% da prova de português com literatura e interpretação. O mesmo acontece com a UNIT. Portanto, faz-se mister que você conheça todos os detalhes a respeito do autor, da estrutura da obra e da corrente literária a que ela e o autor pertencem.
Lembre-se que a universidade está procurando aprimorar o nível das questões, exigindo de você cada vez mais um conhecimento não só da estrutura literária, mas principalmente profundo entendimento da literatura como um fenômeno cultural contextualizado historicamente.
Procurei esmiuçar os textos poéticos e as narrativas de tal maneira que, depois da leitura feita por você, possamos ter uma visão ampla dos aspectos estruturais e temáticos das obras solicitadas. As análises feitas e as interpretações propostas não são absolutas, aliás, conforme a própria literatura se quer: aberta ao leitor. Mas é importante que você faça uma leitura completa dos livros propostos para depois tomar conhecimento das análises aqui fornecidas.
Ao tomar contato com este estudo, coloco-me à sua disposição, para quaisquer esclarecimentos, através dos telefones (79) 3215 30 52/, 8831 17 69. Se preferir, através da minha residência, em Aracaju-Sergipe, Rua Muribeca, 614, Santo Antônio ou pelo endereço eletrônico: alexandresant@oi.com.br
O MUNDO DO ENGENHO EM JOSÉ LINS DO REGO POR ALEXANDRE SANTOS

É evidente que todos eles não possuem a mesma visão crítica de Fogo Morto, considerado a síntese do ciclo, mas é perceptível a intenção documental de sua obra. Ficam claras as relações no interior dos engenhos que, mais tarde, serão engolidos pela usina. Em cada um de seus romances do ciclo, José Lins do Rego nos coloca em contato com a estrutura social do Nordeste, ora numa visão de observador, ora numa posição de crítico.
Há em José Lins do Rego uma tendência para evolução crítica nos romances do ciclo, daí se poder falar em salto qualitativo, de Menino de Engenho a Fogo Morto, romance em que o autor melhor se realiza. Do ponto de vista temático, Fogo Morto causa de imediato impacto pela posição política que encerra e pela estrutura que molda o desenrolar dos acontecimentos em torno das três partes, que aparecem amalgamadas, e dos três personagens, que se completam, na revelação de um mundo marcado pelos conflitos de ordem econômica, social e política.
O resultado é que José Lins não só criou um “senhor” romance do ponto de vista social e político, mas também construiu os personagens mais representativos da ficção brasileira: mestre José Amaro e o quixotesco Vitorino Carneiro da Cunha. O primeiro representa simbolicamente a luta dos pobres e oprimidos contra seus opressores, apoiado na violência do cangaço, e o segundo, a saída democrática de libertação das classes menos favorecidas, assentada na crença do império da lei e de uma política social justa e humana. É um criador de utopias.
De tendência neo-realista Fogo Morto é indubitavelmente um dos melhores romances que a ficção brasileira já produziu e um dos principais representantes da literatura regionalista de trinta que produziu obras do caráter de São Bernardo, Terras do Sem Fim e o Quinze. Segundo José Hildebrando Dacanal, “José Lins do Rego, ao afastar-se de sua linha de frio observador, realiza em Fogo Morto uma revisão crítica do mundo do bangüê e do engenho e das condições econômicas, sociais e políticas nele vigentes, realidades que já haviam sido descritas e fixadas, mas jamais analisadas valorativamente.”
O RESGATE DO REGIONALISMO NORDESTINO EM COIVARA DA MEMÓRIA POR ALEXANDRE SANTOS

Não sabia se o impulso tinha ocorrido apenas comigo, mas lendo alguns artigos sobre Coivara da Memória, Os Desvalidos e Cartilha do Silêncio, percebi que a tentação de aproximar Francisco Dantas aos grandes nomes da literatura regionalista nordestina é inevitável. Privilégio ou depreciação aproximá-lo, por exemplo, a Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, José Lins do Rego e até mesmo ao francês Marcel Proust?
Das minhas leituras, fiquei apenas com uma certeza: Dantas tem mérito pela sua originalidade e, principalmente, pela coerência que mantém nas três narrativas, principalmente, no tocante à experimentação da linguagem. É como se ele fosse experimentando a linguagem até o ponto ideal ou... Encontrar em seus três romances pedaços de Graciliano, de Guimarães e de José Lins do Rego, parece-me querer transformar sua produção numa “colcha de retalhos”, o que, indubitavelmente, está longe de ser. O cunho memorialista, a linguagem oral, trabalhada com esmero, e principalmente, a temática, revelam sobretudo uma “resistência” de um escritor que está distante dos “modismos”.
Sempre fui um perscrutador de vozes alheias e distantes, e muito cedo me familiarizei com escritores memorialistas e, principalmente, que escreveram em primeira pessoa. Machado de Assis, Lima Barreto, Rachel de Queiroz, Guimarães Rosa, José Lins do Rego e, principalmente, Graciliano Ramos, meu escritor preferido. Fui “menino de engenho” e, talvez, por isso, sinto-me ainda agarrado às relações atávicas e telúricas que emergem desses escritores. Dantas fez-me mergulhar, neste final de século, pelas “coivaras da memória”.
A resistência a que me referi deve-se ao fato de que seu livro “Coivara da Memória” traz à tona uma temática meio esquecida, talvez, porque tematizar a zona rural, o sertão, não seja mais interessante, numa sociedade sem memória, e que teima em esquecer suas raízes. O espaço invocado pelo narrador de Coivara da Memória leva o leitor a mergulhar em raízes bem sergipanas, nordestinas, encravadas que estão nas relações patriarcais passadas, mas que ainda hoje moldam o nosso modo de ser. Ao buscá-las, o narrador não apenas evoca, mas reinterpreta-as, tornando assim testemunha principal de um mundo que aos poucos vai desaparecendo, mas que deixa marcas indeléveis.
Adotado pela UNIT e pela UFS, Coivara da Memória coloca o vestibulando sergipano em contato com um mundo bem perto dele, mas talvez desconhecido. Lê-lo é deparar-se com uma linguagem rica em oralidade, cujo conteúdo é revelador de um mundo que ainda teima em resistir. Lê-lo é um bom exercício de linguagem e de descoberta de relações humanas, sociais e culturais que ultrapassam os limites do regional, para atingir uma dimensão universal.
A FORÇA REGIONAL DE ÁGUA DE CABAÇA POR ALEXANDRE SANTOS

Não é surpreendente a capacidade do autor de resgatar as “estórias” regionalistas, que enriquecem a oralidade literária sergipana, principalmente, numa época afeita às narrativas urbanas, visto que em outras obras suas, essa tendência já se fazia sentir. Pesquisador, agudo observador da vida comunitária e patriarcal de Itabaiana, Vladimir, em Água de cabaça, revela-se um contador de “estórias”, no sentido roseano da expressão.
Percebe-se que a estrutura narrativa de suas 31 “estórias” guarda estreita relação com a realidade objetiva, o que reforça o caráter verossímil do que conta, e, até mesmo nas narrativas alegóricas, que, pelo poder de convencimento que apresentam, o leitor é levado a crer na “estória” que está lendo, como se os fatos tivessem mesmo acontecido, tal o poder de persuasão do narrador, do autor.
Do ponto de vista literário, Água de cabaça insere Vladimir na rica e consagrada Literatura regionalista brasileira, não só pela captação da atmosfera rural, mas por uma linguagem experimental, eivada de
Os contos que compõem o livro Água de cabaça são regionalistas, tanto do ponto de vista temático quanto do ponto de vista da linguagem. Entretanto, o regionalismo não impede que algumas narrativas abordem situações universais e atemporais, o que contribui para a diversidade temática da obra e até mesmo lingüística.
O livro se abre com o conto O Retorno, uma paráfrase do discurso bíblico da volta de Jesus Cristo ao mundo e se fecha com Lugar na missa, uma crítica contundente à intolerância eclesiástica. Em ambos, percebe-se uma reflexão sobre a Igreja pelo seu dogmatismo. Entre um e outro, há mais 29 contos, ou estórias para reforçar o caráter oral das narrativas.
Mas o grande tema da maioria desses contos é o erotismo, como símbolo de liberdade e desalienação, conforme acontece em O encontro; castrador da felicidade humana, como aparece em Jantar; ou apenas como ato instintivo, primário, natural, como em Areia no prato e O Ato.
A violência, o coronelismo, a pistolagem, a vingança, também são temas abordados por vários contos, retratando uma sociedade patriarcal, machista e sobretudo dominada por códigos primitivos de convivência, em que sempre prevalece a lei do mais forte. A Boneca, Piedade e Gato e Lagartixa fazem essa abordagem.
Em outros contos aparecem o misticismo, o amor platônico, o sonho, a felicidade, o desejo de descoberta, como em Capricha no pastel, Aparício, um hino à amizade e à simplicidade, à autenticidade, como forma de convivência pacífica entre os seres humanos.
Mas os contos de Água de Cabaça captam um momento de transição, de transformação, ocorrido no interior de uma sociedade fadada a desaparecer, mas que teima em resistir, a sociedade rural patriarcal, e é, nessa captação desse momento, que reside a riqueza da obra.
Nesses termos, o conto Conexão é o mais emblemático. A sociedade capitalista, tecnológica, com seu racionalismo, aparece como “uma engrenagem monstruosa”, pronta para devorar a tudo e a todos, invadindo um espaço ainda dominado pelo primitivo, pelo místico, pelo sobrenatural.
A linguagem do autor empregada na maioria dos contos é correta do ponto de vista gramatical, revelando um estilo clássico, se bem que a temática da maioria dos contos seja regionalista. A fusão da linguagem clássica com as expressões orais, regionais e de cunho naturalista acaba tendo um efeito literário agradável, entretanto.
Frases curtas, nominais, orações coordenadas assindéticas, pouca subordinação, fazem o estilo objetivo das narrativas, e até mesmo quando o autor faz uso de metáforas inusitadas, comparações com elementos da natureza, percebe-se a plasticidade da linguagem. artifícios literários, que embelezam e dramatizam as “estórias” contadas.
Ler Água de cabaça é penetrar no rico cabedal cultural do interior sergipano e conhecer costumes que dão originalidade a um “modus vivendi” que ainda hoje teima em resistir.
PREPAREM OS AGOGÔS: A HISTÓRIA DE SERGIPE POR ALEXANDRE SANTOS

Nesses termos o romance acaba sendo um testemunho indelével da história de Sergipe, formada a partir dos engenhos da cana-de-açúcar e das grandes plantações de algodão, no Vale do Cotinguiba, cujas conseqüências ainda hoje podem ser observadas. Emerge também dessas relações uma cultura rica e variada a partir dos diversos grupos étnicos oriundos da áfrica e dos cruzamentos raciais. A história dos barões e seus descendentes, dos negros escravos que chegaram aqui por contrabando e que lutaram desesperada e intermitente pela sua libertação, tornam-se contraponto entre a ficção e a história, entre o passado e o contemporâneo, de Sergipe e do Brasil. Assim, a história de Tomás Gonzaga acaba se confundindo com a história de Sergipe e de seu próprio país.
A PROBLEMÁTICA DE ASSASSINATO NA FLORESTA POR ALEXANDRE SANTOS

O romance Assassinato na Floresta, de Paulo Rangel, é uma paráfrase da história de Chico Mendes, líder seringueiro, assassinado em 1988, pelos mesmos motivos por que Raimunda, personagem da narrativa, também foi eliminada. Ambos eram líderes seringueiros e deram suas vidas em defesa dos povos da região amazônica e da natureza exuberante e fundamental para a vida humana. Esse fato confere ao romance um caráter épico, que, somado ao aspecto policial que a narrativa encerra, coloca o livro de Paulo Rangel num lugar de destaque em sua categoria de Literatura juvenil.
Do ponto de vista estrutural a narrativa assemelha-se ao chamado romance-reportagem, cujas características essenciais são o seu caráter histórico-jornalístico, além do tom de reportagem policial que ela encerra. Os fatos são distribuídos através de quarenta capítulos narrativos acompanhando toda a trajetória do repórter policial Ivo Cotoxó que tenta desvendar as circunstâncias que envolveram a morte da líder seringalista Raimunda, no interior do Amazonas. O trabalho que deveria obrigatoriamente ser feito pela polícia acaba sendo realizado pelo jornalista, inclusive, e, talvez, com mais competência. O romance torna-se, pois, um exemplo do que se chama hoje jornalismo investigativo.
Embora o romance faça inúmeras referências ao assassinato de Chico Mendes, percebe-se que a história de Raimunda assemelha-se à do líder de Xapuri, o que caracteriza a narrativa de Paulo Rangel como uma paráfrase. Mas, inegavelmente, Assassinato na Floresta, com seus ingredientes literários, portanto, ficcionais, permite ao leitor penetrar em nuances que não ficaram devidamente esclarecidas, porque não aprofundadas, pelas autoridades brasileiras, no caso da eliminação de Chico Mendes. Ao contrário, no romance, a perspicácia de Ivo Cotoxó leva-o a destrinchar todo o emaranhado do episódio, o que permitiu a descoberta de todos os envolvidos no assassinato, desde a ponta do “iceberg” até a sua essência. É como se houvesse uma insinuação por parte de Paulo Rangel de que a morte de Chico Mendes foi esclarecida apenas pelos aspectos mais imediatos, ou seja, descoberta e punição dos mandantes e criminosos mais perceptíveis, colocando-se, de lado, aspectos políticos e econômicos que envolveram, também, a morte do líder acreano.
A investigação do repórter da Tribuna da Pátria estimula o leitor brasileiro a entender a realidade vivida pelos povos da Amazônia, e, nesses termos, observa-se que ao extrapolar o fato meramente policialesco do assassinato de Raimunda, Cotoxó coloca o leitor numa posição privilegiada do ponto vista histórico-político, ao revelar que a simples morte de uma seringueira, no interior do Brasil, estava relacionada, como decerto a de Chico Mendes, com a política econômica internacional de exploração das regiões mais pobres da terra pelas grandes potências, mas ao mesmo tempo ricas do ponto vista da natureza. É exatamente essa riqueza que é ambicionada pelos países mais industrializados e mais ricos, que, ao mesmo tempo em que se arvoram como defensores da natureza, agem sorrateiramente, como predadores, e, para tanto, usam seus cidadãos e as multinacionais para colocar em prática interesses escusos.
Esse é o grande mérito da reportagem de Ivo Cotoxó e, por conseguinte, do romance de Paulo Rangel que estimula o leitor a aprofundar essa linha de raciocínio através de outras publicações, tanto literárias, quanto jornalísticas e cinematográficas. Portanto, faz-se mister que o leitor se informe sobre a Amazônia e circunstâncias da vida e morte de Chico Mendes.