
Na primeira vez que me dediquei a estudar, ainda que superficialmente, a obra de Francisco J. C. Dantas, num primeiro momento, declinei-me, preferencialmente, pelo Os Desvalidos. A linguagem bem elaborada de Cartilha do Silêncio me entusiasmou, certa feita, a compará-lo com Guimarães Rosa, o que, decerto, não o compararia mais. Minha preferência, contudo, acabou recaindo sobre o seu primeiro romance Coivara da Memória, depois de uma leitura mais apurada que teve o objetivo de oferecer aos meus alunos vestibulandos um entendimento crítico da obra desse sergipano que acaba de se tornar consagrado internacionalmente, ao receber um prêmio pela seu último romance, Cartilha do Silêncio, na Itália.
Não sabia se o impulso tinha ocorrido apenas comigo, mas lendo alguns artigos sobre Coivara da Memória, Os Desvalidos e Cartilha do Silêncio, percebi que a tentação de aproximar Francisco Dantas aos grandes nomes da literatura regionalista nordestina é inevitável. Privilégio ou depreciação aproximá-lo, por exemplo, a Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, José Lins do Rego e até mesmo ao francês Marcel Proust?
Das minhas leituras, fiquei apenas com uma certeza: Dantas tem mérito pela sua originalidade e, principalmente, pela coerência que mantém nas três narrativas, principalmente, no tocante à experimentação da linguagem. É como se ele fosse experimentando a linguagem até o ponto ideal ou... Encontrar em seus três romances pedaços de Graciliano, de Guimarães e de José Lins do Rego, parece-me querer transformar sua produção numa “colcha de retalhos”, o que, indubitavelmente, está longe de ser. O cunho memorialista, a linguagem oral, trabalhada com esmero, e principalmente, a temática, revelam sobretudo uma “resistência” de um escritor que está distante dos “modismos”.
Sempre fui um perscrutador de vozes alheias e distantes, e muito cedo me familiarizei com escritores memorialistas e, principalmente, que escreveram em primeira pessoa. Machado de Assis, Lima Barreto, Rachel de Queiroz, Guimarães Rosa, José Lins do Rego e, principalmente, Graciliano Ramos, meu escritor preferido. Fui “menino de engenho” e, talvez, por isso, sinto-me ainda agarrado às relações atávicas e telúricas que emergem desses escritores. Dantas fez-me mergulhar, neste final de século, pelas “coivaras da memória”.
A resistência a que me referi deve-se ao fato de que seu livro “Coivara da Memória” traz à tona uma temática meio esquecida, talvez, porque tematizar a zona rural, o sertão, não seja mais interessante, numa sociedade sem memória, e que teima em esquecer suas raízes. O espaço invocado pelo narrador de Coivara da Memória leva o leitor a mergulhar em raízes bem sergipanas, nordestinas, encravadas que estão nas relações patriarcais passadas, mas que ainda hoje moldam o nosso modo de ser. Ao buscá-las, o narrador não apenas evoca, mas reinterpreta-as, tornando assim testemunha principal de um mundo que aos poucos vai desaparecendo, mas que deixa marcas indeléveis.
Adotado pela UNIT e pela UFS, Coivara da Memória coloca o vestibulando sergipano em contato com um mundo bem perto dele, mas talvez desconhecido. Lê-lo é deparar-se com uma linguagem rica em oralidade, cujo conteúdo é revelador de um mundo que ainda teima em resistir. Lê-lo é um bom exercício de linguagem e de descoberta de relações humanas, sociais e culturais que ultrapassam os limites do regional, para atingir uma dimensão universal.
Não sabia se o impulso tinha ocorrido apenas comigo, mas lendo alguns artigos sobre Coivara da Memória, Os Desvalidos e Cartilha do Silêncio, percebi que a tentação de aproximar Francisco Dantas aos grandes nomes da literatura regionalista nordestina é inevitável. Privilégio ou depreciação aproximá-lo, por exemplo, a Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, José Lins do Rego e até mesmo ao francês Marcel Proust?
Das minhas leituras, fiquei apenas com uma certeza: Dantas tem mérito pela sua originalidade e, principalmente, pela coerência que mantém nas três narrativas, principalmente, no tocante à experimentação da linguagem. É como se ele fosse experimentando a linguagem até o ponto ideal ou... Encontrar em seus três romances pedaços de Graciliano, de Guimarães e de José Lins do Rego, parece-me querer transformar sua produção numa “colcha de retalhos”, o que, indubitavelmente, está longe de ser. O cunho memorialista, a linguagem oral, trabalhada com esmero, e principalmente, a temática, revelam sobretudo uma “resistência” de um escritor que está distante dos “modismos”.
Sempre fui um perscrutador de vozes alheias e distantes, e muito cedo me familiarizei com escritores memorialistas e, principalmente, que escreveram em primeira pessoa. Machado de Assis, Lima Barreto, Rachel de Queiroz, Guimarães Rosa, José Lins do Rego e, principalmente, Graciliano Ramos, meu escritor preferido. Fui “menino de engenho” e, talvez, por isso, sinto-me ainda agarrado às relações atávicas e telúricas que emergem desses escritores. Dantas fez-me mergulhar, neste final de século, pelas “coivaras da memória”.
A resistência a que me referi deve-se ao fato de que seu livro “Coivara da Memória” traz à tona uma temática meio esquecida, talvez, porque tematizar a zona rural, o sertão, não seja mais interessante, numa sociedade sem memória, e que teima em esquecer suas raízes. O espaço invocado pelo narrador de Coivara da Memória leva o leitor a mergulhar em raízes bem sergipanas, nordestinas, encravadas que estão nas relações patriarcais passadas, mas que ainda hoje moldam o nosso modo de ser. Ao buscá-las, o narrador não apenas evoca, mas reinterpreta-as, tornando assim testemunha principal de um mundo que aos poucos vai desaparecendo, mas que deixa marcas indeléveis.
Adotado pela UNIT e pela UFS, Coivara da Memória coloca o vestibulando sergipano em contato com um mundo bem perto dele, mas talvez desconhecido. Lê-lo é deparar-se com uma linguagem rica em oralidade, cujo conteúdo é revelador de um mundo que ainda teima em resistir. Lê-lo é um bom exercício de linguagem e de descoberta de relações humanas, sociais e culturais que ultrapassam os limites do regional, para atingir uma dimensão universal.
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